Este depoimento sintetiza minha experiência neste longo período de confinamento e a de muitos docentes e gestores com os que tenho conversado nestes quase dois anos.

Este longo período de pandemia me deixou exausto. Foi tudo tão inesperado, surreal, tão longo e tenso, que só agora percebo e sinto, com mais clareza, todos os seus efeitos. No começo veio o choque do confinamento, com o fervilhar de inúmeras lives para trocar ideias, experiências e encontrar saídas para a escola e a vida online.

exausto

Conheci novas plataformas, tive que redesenhar as aulas com mais vídeos, atividades assíncronas e síncronas. Tudo era muito novo e desafiador para atender a alunos com bons recursos digitais e aos que  tinham  acesso bem precário. Fiz o possível para equilibrar minha vida profissional em casa, com as rotinas familiares e a angústia de estar fechado durante um tempo que se prolongou demais, com muitas incertezas na saúde, financeiras e no futuro.

Muitos meses online criaram uma nova rotina no gerenciamento dos tempos de aula ao vivo, no  acompanhamento de fóruns, grupos de discussão, eventos, demandas de muitos estudantes, docentes, gestores e pais, em jornadas cada vez mais extensas. Tudo deixou de ser novidade e virou hábito. Uma rotina tensa, com o desafio de todo o dia atrair a atenção de estudantes, planejar estratégias diferentes e checar se estavam mesmo participando, com câmaras muitas vezes desligadas. Um desafio novo foi interagir remotamente com os pais: uns participando bastante; outros, palpitando e/ou  reclamando. Foi também desgastante gerenciar os alunos que não postavam as atividades, seja por problemas de acesso ou por desinteresse. Frustração maior aconteceu com a perda de estudantes que desistiram ou sumiram.

Aprendi muito, trabalhei muito, me cansei muito e agora sinto mais claramente as consequências desse período tão longo de confinamento: um stress acumulado que se expressa em uma irritação mais frequente. Há outros agravantes: a perda de pessoas queridas e ver outras, deprimidas ou desempregadas, num cenário econômico e político que se deteriora.

Aprendi muito na pandemia: tive muita ajuda de colegas, fiz projetos em parceria com alguns deles. Estamos voltando ao presencial, mas ainda não está tudo tranquilo. Ainda tem alunos que ficam em casa, mesmo que a maioria tenha voltado para as aulas; isso exige uma dedicação extra para manter engajados a cada um dos estudantes. Avancei muito nas competências digitais: Domino várias plataformas, consigo organizar atividades em grupo online, gravo vídeos, me familiarizei com aplicativos de criação, de comunicação e de avaliação. Isso me ajudará muito daqui em diante porque poderei diversificar as, tanto na sala de aula como nos ambientes digitais síncronos e assíncronos.

Faço o melhor, mas às vezes parece insuficiente. Sinto com mais frequência o cansaço de muitos meses vividos pela metade, com o freio puxado, saturado de lives, e inseguro diante de uma retomada lenta, que exige muita resiliência e capacidade de reinvenção, depois de um período tão longo, diferente e desgastante. No meio de tantas contradições, o resultado me parece muito favorável. Procuro viver cada dia da forma mais coerente, ir evoluindo no meu ritmo possível e manter sempre a esperança de estar pronto para novos desafios.

José Moran

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