As metodologias ativas estão muito em voga na educação básica e superior, como abordagens pedagógicas que privilegiam a aprendizagem dos estudantes por descoberta, por investigação ou resolução de problemas. Apesar de não ser um tema novo (Dewey, fim do século XIX) temos hoje mais evidências científicas da sua importância para uma aprendizagem mais ampla e profunda (Psicologia, Neurociência, Pedagogia) e da urgência na sua implementação num mundo em profunda transformação.

Encontramos, contudo, diferentes interpretações do seu alcance e significado. Uns entendem as metodologias como domínio de algumas técnicas e abordagens para envolver mais os alunos (aula invertida, rotação por estações, projetos) e as utilizam predominantemente de forma individual. Outros as veem como estratégias mais complexas centradas na participação efetiva dos estudantes, na integração maior entre áreas de conhecimento e docentes (salas de aula adaptadas, projetos integradores, como o STEAM que articulam Ciências, Matemática, Engenharia, Artes e Tecnologias). Um grupo menor de educadores e gestores enxerga as metodologias ativas dentro de um movimento de transformação mais ampla das Escolas e Instituições de Ensino Superior, que reestrutura o currículo por projetos, os espaços, a avaliação e a participação mais efetiva da comunidade.

Metodologias estão associadas a diferentes conceitos de participação. Enquanto para umas escolas a participação dos estudantes se limita à execução das atividades previstas, em outras há diferentes níveis de negociação, participação e personalização (escolhas, roteiros diferentes). Há escolas que envolvem parcialmente os pais e a comunidade nas decisões pedagógicas e curriculares; em outras o conceito de Escola como Comunidade de Aprendizagem é central e o nível de participação mais abrangente (pais e organizações locais participam na gestão e nas decisões mais relevantes, assumem a mentoria de alguns projetos ou de alunos com dificuldades. Infelizmente, ainda tem pais que transferem a responsabilidade de educar para a escola e não participam ativamente, mesmo insistentemente convidados, para contribuir efetivamente.

Metodologias ativas pressupõem uma mudança cultural na visão sobre a Escola (básica/superior) de todos – gestores, docentes, funcionários, estudantes, famílias. Não é simples mudar paradigmas mentais consolidados, sair da posição central de docentes para a de mediadores.  Exige um investimento maior em formação, experimentação, mais tempo de preparação das atividades, de planejamento em conjunto com vários colegas, de participação maior dos alunos e ter um domínio mais amplo das tecnologias digitais. Alguns avançam mais rapidamente, mas outros precisam de mais tempo, de ter mais exemplos exitosos acontecendo e há um terceiro grupo que resiste ao máximo às mudanças. O papel dos gestores é decisivo para diminuir a distância entre os mais proativos e os que têm mais dificuldades: Podem promover maior intercâmbio entre os diversos grupos, troca de experiências, realização de oficinas, compartilhamento das melhores práticas e cobrança de resultados.

Metodologias ativas precisam também de melhores condições materiais: redesenho das salas de aula, aumento da conectividade, melhoria das condições trabalho dos docentes, que são muito precárias, para a maioria: trabalho em dois ou três turnos, número excessivo de aulas e alunos, pouco tempo de preparação, acompanhamento e avaliação dos estudantes, salários baixos, pouca valorização profissional. Não podemos esperar grandes transformações na base só do idealismo e do voluntarismo.

metodologia-ativa-questionamentos

Algumas questões pedagógicas

Alguns docentes confundem “ativismo” (fazer muitas atividades) com metodologias ativas. Há um certo encantamento com a ação, com os ambientes “maker”, com os produtos (projetos, vídeos produzidos, aplicativos digitais) e um encantamento menor com a reflexão, a leitura e o aprofundamento conceitual posterior. Ambos são necessários; mas a leitura e a reflexão são um desafio mais complexo para crianças e jovens o que exige dos docentes sintonia fina e persistência para auxiliá-los no desenvolvimento de estratégias progressivamente mais complexas de análise, reflexão e síntese. Atividades práticas, sem reflexão adequada, podem levar a aprendizagens superficiais e a desenvolvimento insuficiente das habilidades e competências esperadas em cada etapa da aplicação do currículo. É bem atual a afirmação do cientista social Kurt Lewin: Nada mais prático do que uma boa teoria. Ou como afirma Paulo Freire: “A teoria sem a prática vira ‘verbalismo’, assim como a prática sem teoria, vira ativismo. No entanto, quando se une a prática com a teoria tem-se a práxis, a ação criadora e modificadora da realidade”.[1]


Outro problema que aparece com frequência é o repertório pouco diversificado de abordagens e técnicas de alguns docentes para enfrentar processos longos de ensino e aprendizagem como os escolares. Quando descobrem, por exemplo, a aula invertida ou a rotação por estações, repetem os procedimentos muitas vezes e de forma semelhante. Cada abordagem – problemas, projetos, design, jogos, narrativas – tem importância, mas não pode ser trabalhada como se fosse única. Pesquisas mostram que – passado o impacto da novidade – o interesse dos estudantes e dos docentes diminui.

Há diferentes possibilidades, caminhos e tempos de aprender. As escolas e os docentes têm um desafio complexo de otimizar as propostas, os recursos, personalizar o processo de aprendizagem às necessidades de cada estudante e, ao mesmo tempo, acompanhar um número grande de alunos. Hoje estamos avançando no apoio da inteligência artificial para mapear essas diferentes trilhas e visualizá-las em tempo real. O trabalho como gestores e docentes é encontrar quais caminhos são mais viáveis, atingem melhor os objetivos, ajudam os aprendizes a se mobilizarem mais (mesmo que não do mesmo jeito). Cada gestor e docente faz algumas opções; testa diversos roteiros, técnicas, atividades que trazem evidências de que atingirão melhor os objetivos pretendidos; mas sabendo que não atenderão a todos da mesma forma e com os mesmos resultados. Não é simples combinar equilibradamente a personalização, a aprendizagem por pares e a tutoria/mentoria. Como acompanhar itinerários diferentes em turmas grandes? Como não se perder nos tempos diferentes, ritmos diferentes, projetos diferentes e, ao mesmo tempo, conseguir trabalhar valores comuns, projetos comuns, tempos institucionais previsíveis?

Docentes apontam também sua preocupação com a cobrança por dar conta de todo o conteúdo previsto, se trabalham as metodologias. Em escolas mais conteudistas essa cobrança é mais forte. Nelas o professor pode explicar como está trabalhando o conteúdo (aula invertida, algumas aulas expositivas, espaços de tira-dúvidas). E sempre deve ficar claro que as metodologias dialogam com o conteúdo e com o desenvolvimento de competências. Cada professor precisa avaliar até onde pode avançar, com que colegas pode contar para trabalhar de forma mais integrada e ir apresentando o processo e os resultados no ambiente digital possível (da escola ou pessoal).

As escolas utilizam as metodologias de acordo com a situação em que se encontram. Muitas escolas (na educação básica e superior) se encontram em um estágio inicial de transformação: utilizam as metodologias ativas de forma pontual, dependendo da iniciativa de alguns docentes e gestores, sem um projeto institucional. Outras se encontram em fase de transformação mais ampla: trabalham de forma mais sistemática e integrada com projetos, investigação, desafios, problemas, projetos, aula invertida, experimentação, remodelação dos espaços e avaliação mais complexa. E um terceiro grupo redesenha (de formas diferentes) a escola de forma mais sistêmica, em todas as dimensões:  uma escola com ampla participação de todos, como comunidade viva e ativa de aprendizagem, onde o currículo é organizado por projetos, desenvolvimento de competências e valores humanos sustentáveis 

O entendimento do que são metodologias ativas, como vimos, é bastante diversificado, mas cresce a percepção de que não é suficiente planejá-las de forma isolada; fazem sentido em um contexto de mudança estruturada e sistêmica. Metodologias implicam, no curto ou médio prazo, em mudar o currículo, os horários, redesenhar os espaços, os modelos híbridos, repensar as formas de contratação (inserindo mais tempos para planejamento conjunto, para mentoria, para as atividades online e participação nos lucros, também).  O planejamento das transformações tem impactos pedagógicos, mas também financeiros, que precisam de um estudo de viabilidade econômica.

Sabemos que o caminho da transformação das escolas é longo, complicado e desigual. Mas só assim ofereceremos reais oportunidades para que todos possam construir uma vida interessante, com propósito e capaz de enfrentar os imensos desafios que nos esperam nos próximos anos num mundo tão complexo e desafiador.

José Moran

 

[1] FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São  Paulo. Ed.Paz e Terra (coleção leitura), 1996. 25p

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Além disso, o professor José Moran também discute a importância da tecnologia na educação e como ela pode ser utilizada de forma efetiva para potencializar o aprendizado. Ele defende o uso de ferramentas digitais como forma de ampliar a interação entre os alunos e professores, tornando o processo de ensino e aprendizagem mais dinâmico e estimulante.

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